Sinopse: Christopher Cleek, advogado e firme chefe de família, numa tarde de caça, cruza-se com uma mulher selvagem que habita nos bosques que circundam a sua casa. Cleek decide apresentá-la à família. Após uma série de assustadores encontros todos começam a perceber que há algo mais por detrás desta mulher e que por vezes o diabo se apresenta com um sorriso.
Opinião: Embora muitos digam que este filme não se trata exactamente de um filme de terror, considero que o é e um dos melhores que vi nos últimos tempos. Não tem muito gore a não ser na cena final, por isso quem procura um filme cheio de torturas e sangue infligido à The Woman, como a própria sinopse parece sugerir, vai sair muito desiludido. O terror chega ao público de forma muito psicológica e de uma maneira muito subtil, pois quando damos por nós estamos completamente absorvidos no que se passa naquela família.
Cleek, o chefe da família, ao caçar no bosque encontra uma mulher em estado selvagem e decide levá-la para casa para civilizá-la. Apresenta-a à família e distribui as tarefas de como todos deverão "cuidar" desta mulher. É aqui que nos apercebemos que há algo errado e disfuncional pois as mulheres parecem viver num estado de apatia e de medo. Estando a mulher num estado selvagem e não compreender nem ter noção do que lhe estão a fazer, o seu sofrimento começa com o tentarem lavá-la, alimentá-la com talheres, vestirem-lhe uma roupa e mantê-la presa pelos braços e pernas.
Os actores deste filme são qualquer coisa de fenomenal com especial destaque para o pai que transmite na perfeição a disfuncionalidade do seu comportamento para com a família. Em certas alturas temos uns momentos de humor (negro a meu ver) que penso tenham sido criados para aliviar a tensão.
No festival Sundance houve um senhor que se levantou e acusou este filme de ser misógino: eu NÃO concordo. Acho que este filme pretende retratar um caso muito actual de violência doméstica, como existem homens que de facto tratam mulheres desta forma, como existem mulheres que vivem presas nesta vida e não conseguem sair e como esta atitude se pode perpetuar pelas gerações, que está bem patente no papel do único filho homem da família. O The Woman ao mesmo tempo que mostra cruamente esta violência, coloca a mulher selvagem num papel de heroína que vai "salvar o mundo". Prova que mesmo em estado selvagem, tem a noção do certo e do errado ao contrário dos filmes de terror normais em que a dicotomia é entre o bem e o mal. Ao mostrar um retrato de violência doméstica e ódio às mulheres, mostra a crítica ao facto disto existir utilizando a mulher selvagem para isso.
Creio que a cena final podia ter sido mais lenta e até violenta. As coisas acabam por se desenrolar muito rapidamente quando podiam ser mais bem exploradas e aproveitadas. Gosto também de uma dicotomia no final que mostra que é possível ser-se ainda mais selvagem do que a mulher selvagem e prova que ela tem um pouco de humanidade também. Como figura no poster do filme: "Not every monster lives in the wild"
Muito importante: antes de visionarem o filme, procurem o significado de anoftalmia (perceberão depois porquê).
Aconselho vivamente o visionamento, é um grande abre olhos para muitos.
Nota: 8/10